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Home » Notícias » Colunistas » Fragmentos de um Diário – 19 de Janeiro de 1976

Fragmentos de um Diário – 19 de Janeiro de 1976

 Viver melhor na nossa terra!
28.05.21
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19 de Janeiro de 1976

         A regularidade não tem pautado o ritmo deste diário. Não que me falhe a vontade, mas o tempo foge em mil ninharias. Estudos, aulas, aulas e estudos. Se porventura agarro um naco de folga, desperdiço-o não sei em quê. E o meu esboço para um romance poucas horas me exige: duas a três horas por semana. Como tenho tempo livre de manhã, às quintas, instalo-me no café Infante, quase sempre sob a sua estátua, e escrevo. Escrevo, acreditando que vou evoluindo na construção das frases. Mas nunca me dou por satisfeito.
        Várias questões inerentes a uma sequência coerente do enredo me atormentam. Primeiro, a relação lógica que deverá existir e persistir entre o psicológico e o comportamento das personagens. Por exemplo, ao nível da conversação, nas palavras que empregam, na construção das frases, nas ideias que transmitem. Ainda que seja problemática esta questão da identidade psicológica. Outro problema: o modelar da frase, a fuga das construções demasiado comuns; saber criar a frase imprevista, que sacuda o leitor, que o desperte da inércia.

9 de Fevereiro de 1976

        Anoto aqui os meus três ídolos: Sócrates, São Francisco de Assis e os hippies. Um protesto em relação à sociedade; a ânsia de perfeição; o amor da verdade; a autenticidade do eu interior. E como Assis, o encontro de Deus; a sua comunhão na natureza.
        Não quero imitar os hippies. Embora visando a mesma meta, pretendo construir a minha vida, o meu percurso.
Outro assunto: os meus pais continuam em Moçambique. Numa tentativa desesperada de recuperar alguma coisa, alguma indemnização pelos bens lá deixados. Com a previsível nacionalização retiram-lhes o fruto de vinte anos de trabalho. Trabalho operário, não de exploração capitalista. Investiram ao longo de anos em bens de que esperavam viver depois na reforma, dado que os trabalhadores de empresas privadas não têm direito a uma pensão. Mas as notícias que me escrevem são desanimadoras. Por mais que queira suavizar o peso desta desdita, o seu veneno já se acumula nas artérias do pensamento. A alegria distancia-se. A serenidade é um esforço. Só as brincadeiras sensuais me desviariam por instantes deste desencanto.

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