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O povo votou e votou muito

Artigo publicado na edição impressa do Jornal do Centro de 15 março

Nas eleições de domingo, votaram mais 600 mil pessoas do que em 2022 (não podia haver melhor homenagem aos 50 anos do 25 de Abril) e os dois partidos populistas arrecadaram um em cada cinco votos (18% para o Chega, 4% para o Bloco de Esquerda).

AD — Luís Montenegro reeditou uma coligação do tempo de Sá Carneiro, com o CDS e o PPM, e isso amarrou-o a uma imagem do passado; o PPM não lhe deu um voto e o centrista Paulo Núncio, ao querer mexer no que está bem em matéria de interrupção voluntária da gravidez, afugentou voto feminino; Montenegro dará um tiro no pé se levar este beato do CDS para o governo.

PS — a imagem esquerdista de Pedro Nuno Santos desajudou-o muito; não ganhou os indecisos que estavam ao centro e a deslocação global do eleitorado para a direita deixou-lhe pouco voto útil a ganhar à esquerda; o aparelho socialista, ao ter derrotado José Luís Carneiro, traçou o destino destas eleições.
Chega — é o partido da direita radical com o crescimento mais rápido na Europa; Ventura amealhou mais de um milhão e cem mil de votos mas nada depende dele; se Montenegro arranjar um governo capaz de lidar com os problemas mais prementes — professores, polícias, médicos, máfias na imigração, IRS da classe média —, o pecúlio do líder do Chega fica pendurado no vácuo.

IL — a ideia liberal pegou; mesmo com um líder sem carisma, o partido manteve posições; quando é que Carlos Guimarães Pinto, de longe o melhor deputado do parlamento, retoma a liderança da IL?

BE — em 28 de Maio de 2023, no dia em que pegou nas rédeas do partido, Mariana Mortágua chegou-se aos microfones, pôs a voz em alvo, e bradou: "ainda não viram nada!"; continua a não se ver nada.

PCP — dezassete deputados em 2015, doze em 2019, seis em 2022, quatro agora; quatro deputados putinistas.

Livre — a única boa notícia para a esquerda nestas eleições; uma esquerda verde e europeísta, que defende os valores do Ocidente, que não os odeia como as outras duas esquerdas radicais, passou a ter um grupo parlamentar de quatro deputados.

PAN — tudo na mesma como a lesma.

ADN — quantos dos seus 100 mil votos foram enganos de eleitores da AD?; quantos foram votos evangélicos?; como cada voto vale €2,77 por ano, este partido teve um jackpot.