Filipa Jesus

23 de 07 de 2021, 11:23

Diário

Agressões físicas e insultos homofóbicos envolvem dirigentes do Chega em Viseu

Alegado agredido conta ao Jornal do Centro que tem sido vítima de bullying

Sede do Chega em Viseu

Fotógrafo: Igor Ferreira

‘Flor' e ‘Maria Papoila’ foram os insultos que um dos militantes do Chega, no final da tarde de quarta-feira (21 de julho), terá lançado ao filho do proprietário de um estabelecimento comercial junto à sede do partido. A PSP de Viseu foi chamada ao local para controlar a situação e identificou duas pessoas.

Um dos agressores faz parte da direção da Distrital de Viseu do Chega, conforme consta na página oficial do partido. O outro vai apresentar queixa porque diz ter sido agredido verbal e fisicamente. O candidato à Câmara Municipal de Viseu, Pedro Calheiros, também presenciou a zaragata e chegou a agarrar a vítima das ofensas verbais, conforme o próprio conta ao Jornal do Centro.

Em declarações exclusivas ao Jornal do Centro, a alegada vítima contou que, antes do episódio de violência, “ele  [agressor] estava sentado com todo o partido, começou a mandar bocas, a chamar-me de ‘Flor’ e ‘Maria Papoila’ e eu perguntei-lhe se o ‘conhecia de algum lado e o que ele tinha contra mim’. Entrei para o meu estabelecimento, vim buscar um computador e assim que saí perguntou-me se queria levar duas chapadas e eu disse-lhe que não falava com imbecis e ele começou a bater-me”.

No meio da confusão, “fui agarrado pelo senhor que está a candidatar-se à Câmara de Viseu pelo partido do Chega, enquanto o outro senhor me continuou a agredir, sem eu conseguir defender-me”, disse, acrescentando que ficou com algumas lesões no rosto e no corpo, além do computador que ficou partido.

Quando a PSP chegou ao local, já estava tudo mais calmo e ouviu ambos os lados da situação. “Depois, veio ter comigo ao meu estabelecimento [PSP] a tentar intimidar-me para que não apresentasse queixa”, assinalou.

Fonte da PSP de Viseu disse que caso a queixa contra o polícia seja apresentada, será aberto um procedimento interno/disciplinar para averiguar a veracidade dos factos.

O comerciante ainda não apresentou queixa, mas garantiu que vai “ao hospital para mostrar as marcas que tenho no corpo e na cara e vou então formalizar" uma denúncia junto da PSP.

Segundo conta ainda, a perseguição já vem de alguns meses até porque “ cada vez que passo na rua ouço comentários homofóbicos em relação a mim, estão sempre a gozar comigo”. Os insultos são sempre relacionados com questões de orientação sexual.

Em comunicado, os advogados do jovem de 26 anos referem que "conscientes da gravidade dos acontecimentos, acreditamos que estes comportamentos merecem ser tratados com a maior seriedade e rigor. Avançaremos, por isso, com as acções judiciais devidas contra os agressores envolvidos, confiantes de que a justiça, nestas como noutras situações, não se faz em praça pública".

Uma das testemunhas que preferiu manter a identidade em anonimato disse ao Jornal do Centro que assistiu a todo o aparato e que “foi uma vergonha para um candidato à Câmara de Viseu”.

Já a proprietária de um outro estabelecimento próximo da sede do partido também assistiu às provocações. Disse-nos ainda que há umas semanas, houve alguma tensão entre ambas as partes por uma “publicidade do partido que poderia tapar a deles”.

Contactado pelo Jornal do Centro, a direção distrital do Chega anunciou que vai remeter para mais tarde uma posição. Entretanto, o presidente, João Tilly, fez já saber que vai falar com os militantes e com o alegado agredido para fazer um relatório e enviar ao partido.

Computador  danificado na agressão com os militantes do chega

Fotógrafo: Igor Ferreira