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No coração de Viseu, há espaços que um dia foram essenciais para a vida da cidade, mas que hoje vivem apenas nas memórias de quem outrora os conheceu. O Cine-Rossio, o Casino de Viseu e a Rua Formosa são três desses lugares. No livro “Sempre é Tempo”, José Carlos Almeida recorda como estes espaços marcaram a sua juventude e a de muitos viseenses, trazendo à tona histórias que, com o passar do tempo, parecem quase esquecidas.
Cine-Rossio: o centro das tardes de cinema
O Cine-Rossio abriu as suas portas em 1952, e rapidamente se tornou um ponto de encontro na cidade. Era um edifício imponente, localizado junto ao Jardim Tomás Ribeiro. Para José Carlos Almeida, que tinha apenas 9 anos na altura da inauguração, o Cine-Rossio transformou-se num dos locais mais importantes da sua infância. “Conheci todos os recantos do Cine-Rossio. Adorava, particularmente, a cabine de projeção de filmes, local que facilmente atrai qualquer criança”, recorda no seu livro.
Durante cerca de dez anos, o autor assistiu a filmes nas suas tardes e noites de folga. Era um lugar mágico para ele e para muitos jovens da cidade. Mas com o passar dos anos, as coisas mudaram. A partir dos anos 60, o Cine-Rossio foi a única sala de espetáculos ativa em Viseu, até que fechou as portas em meados de 1983. Em 1994, o edifício foi demolido, e hoje no lugar do antigo cinema encontramos uma conservatória e uma discoteca. O cinema que trouxe tantos momentos de diversão e sonho desapareceu, mas não da memória dos que, como José Carlos Almeida, viveram intensamente cada sessão de filmes.
Casino de Viseu: o glamour que já foi
No início do século XX, Viseu tinha um casino. Era um lugar onde as pessoas iam para se divertir, para apostar e, quem sabe, perder fortunas. O Casino de Viseu ficava na Rua Conselheiro Afonso de Melo, e era frequentado por uma classe de comerciantes que, na época, começava a ter uma grande influência na cidade. José Carlos Almeida relembra que “a existência de um Casino, indica-nos a presença de uma classe de comerciantes que cada vez vinha assumindo um papel de maior relevo nos destinos da cidade”.
Este grupo de comerciantes foi responsável por grandes mudanças em Viseu, desde a chegada da linha ferroviária Vouguinha, até à fundação do Teatro da Boa União, mais tarde conhecido como Teatro Viriato. Com o tempo, o casino deixou de existir e o edifício foi transformado. Na década de 1950 e 60, ali funcionava um armazém de fazendas, e hoje, no mesmo espaço, está uma agência do Novo Banco, restando pouco do glamour de outros tempos.
Rua Formosa: um lugar de encontros
Se havia um lugar em Viseu que todos conheciam e onde todos queriam estar, esse lugar era a Rua Formosa. Nos princípios do século XX, esta rua tornou-se o centro da vida social e económica da cidade, ligando o Rossio a uma nova centralidade que não parava de crescer. Para José Carlos Almeida, a Rua Formosa foi um lugar de encontros, não só de negócios, mas também de afetos. “Fazia-se picadeiro na Rua Formosa, local de passagem das colegas na ida como na vinda do Liceu”, conta o autor, descrevendo uma época em que os rapazes esperavam por ali apenas para ver as raparigas passar.
A rua, que se encheu de comércio, bancas de advogados, consultórios médicos e cafés, era onde “quem queria prosperar nos negócios do comércio, o prato forte da actividade local, disputava um espaço”. Lojas como a Marques & Vieira, com a sua enorme variedade de fazendas e acessórios para costura, atendiam à crescente clientela que procurava as últimas novidades da moda.
Com o crescimento da cidade e a criação de novas áreas comerciais, a Rua Formosa perdeu a sua centralidade. “Perdeu importância a Rua Formosa, assim como o Rossio”, lamenta o autor, ao refletir sobre o desenvolvimento urbano que levou ao despovoamento do centro tradicional de Viseu.
A memória preservada em “Sempre é Tempo”
O livro “Sempre é Tempo”, de José Carlos Almeida, é uma viagem pela cidade de Viseu de outrora. Com o olhar de quem viveu intensamente a cidade na década de 1950 e 60, o autor partilha as suas memórias pessoais, apoiadas em fotografias antigas que documentam uma Viseu que já não existe. Mas não é só um livro de nostalgia. Liz Vahia diz, no prefácio da obra, “o registo destas memórias não serve apenas para olhar para o passado e reconstruir o ‘como foi estar lá’, este relato serve antes de mais para nos impelir para a frente, dando-nos um suporte onde nos apoiarmos”.
Com fotografias a preto e branco que revelam uma cidade em transformação, o autor constrói um retrato de uma época em que Viseu começava a acordar para a modernidade. No entanto, há uma preocupação constante com o futuro. O autor do livro questiona se o caminho escolhido para o desenvolvimento da cidade é o mais adequado. “O rumo que se tomou em Viseu é bem diferente do que julgo ser desejável”, escreve, apelando a que se tomem medidas que garantam um futuro mais próspero para a cidade e a sua juventude.
No final do livro, José Carlos Almeida deixa uma mensagem de esperança, que lembra que, apesar de tudo, “Sempre é Tempo”. Um convite para todos os que aceitam revisitar o passado, mas também um desafio para quem quer ajudar a construir o futuro de Viseu.
*As fotografias antigas constam no livro*