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Rita Mesquita Pinto
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Jorge Marques
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Diogo Pina Chiquelho
1. À hora em que este Olho de Gato é publicado, uma boa parte dos leitores ainda estará no primeiro sono, depois do “réveillon” possível, este ano sem fogo-de-artifício nem multidões nas ruas. Depois das narinas devidamente escarafunchadas para despiste do “bicho”, lá festejámos, na companhia dos mais queridos, com um bruto espumante e as doze passas bem desejadas.
Rais-parta-isto! Algumas pessoas ainda chamam “novo coronavírus” ao “bicho”, mas agora é mais apropriado tratá-lo como um “velho coronavírus”, que, como diria Camões, vai “tomando sempre novas qualidades”, vai variando as variantes, “pega-se” cada vez mais, cansa cada vez mais.
2. A peste enferrujou as cadeias de abastecimento, desencontrou a oferta da procura, subiu os preços.
Voltou a inflação. Esperemos que seja só uma nuvem passageira. Caso contrário, é mais uma desgraça para os pobres e para quem está endividado na banca. Alguns mais velhos ainda se lembram de hipotecas de casas com juros a 30%, os novos nem imaginam o que isso é. É melhor continuarem sem saber.
Para já, nos Estados Unidos a inflação está nos 6,8%; na UE, nos 4,9%; aqui ao lado, em Espanha, 6,7%; entre nós, bem menos: 2,6%.
3. Depois do Bloco de Esquerda e do PCP terem obrigado à dissolução do parlamento — sem que disso se veja qualquer benefício para o país ou para eles —, vamos ter eleições no final do mês.
Preparemo-nos para quatro semanas de histeria dos amesendados, de logomaquia das televisões, de poluição visual nas rotundas. O costume.
As sondagens, para já, dão o PS a segurar-se, o PSD a subir alguma coisa e a fatia de indecisos a subir ainda mais. Não admira. Ninguém quer eleições de dois em dois anos. Mas, como votar?
Dar 116 deputados a um só partido era uma possibilidade, mas as maiorias absolutas têm péssima reputação. A de Cavaco boliqueima-nos a memória, a de Sócrates ericeira-nos os pesadelos. Talvez fosse melhor um governo de coligação com uma maioria parlamentar estável. Mas qual? Com dois ou mais partidos? À esquerda ou à direita? Não admira que o povo esteja hesitante.
A política lusa, este Janeiro, vai ser entretida. Oxalá a Ómicron não a estrague.
4. Esta coluna vai fazer 20 anos em Março. É muito tempo já a utilizar aqui o método de Norberto Bobbio: devemos escolher uma parte, depois dessa escolha feita há que exercer o juízo crítico com severidade, especialmente com a nossa parte.
Esta maneira de ver o mundo, de que não prescindo, é cada vez menos praticada. A maior parte dos ditos “fazedores de opinião” já só escreve para a sua tribo, dizendo bem dela e mal das adversárias.
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