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Fragmentos de um diário – 21 Setembro de 1985

 Fragmentos de um diário – 21 Setembro de 1985 - Jornal do Centro
24.11.23
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 Fragmentos de um diário – 21 Setembro de 1985 - Jornal do Centro

A Costa da Caparica, uma concha branca abrigada no sopé da arriba, é agora o meu lugar. Aqui me recolho, após o trabalho, no apartamento da Fátima, em plena solidão apenas partilhada pela paisagem do azul do mar e do azul do céu. Mas este horizonte tem delicadezas só para mim, talvez caprichos de mulher, ou jogos fúteis da natureza. Raras vezes, raríssimas, se veste com as mesmas cores. Rendilha-se de primores de costureira antiga. Atavia-se de vaidades de menina e moça. Não se coíbe de esbanjar, perdulário, as tintas de uma paleta de pintor.
Passo horas em pasmo, sem saber se sou eu o sujeito ou o objeto de tal cenário. Venho por vezes com o desejo de ler, de escutar uma música, de escrever. Mas não resisto às solicitações da vista. Imobilizo-me, defronte das portas de vidro. Acabo por me sentar no chão, na cama, numa cadeira, em qualquer lado, mas tudo em mim pára, a vontade fragiliza-se, a razão submete-se, só o olhar porfia em encher a alma de tanta beleza.
Os finais das tardes teimam nesta apoteose estética. Só depois se reanima em mim a vida, com a realização deste ou daquele projeto, o comer e a preparação das aulas. Penso às vezes que a vida esteve ali, naquela quietude contemplativa. Que o resto é a escória do dia. Mas não tem mal. Aquela hora vale por um dia de desperdício. E todos os dias me detenho naquele ato metafísico de ser uma unidade com o todo. Que me perdoem os livros, os discos, os manuais, a comida, mas a vida concentra-se naqueles momentos de êxtase, é por eles que o resto existe, é para eles que existimos.

28 Setembro de 1985

        Nestes últimos fins-de-semana tenho estado por casa.  Não faço nada de especial; preparo as refeições, escuto música, leio, vejo televisão, medito e sonho.
        No próximo sábado tenciono visitar duas exposições de pintura. O que delas li nos jornais, salientando as referências míticas e simbólicas do jogo pictórico, motivou-me. O mero abstracionismo deixa-me frio, neutro, na superfície.
        Obras que entretanto leio ou releio: bastante Hermann Hess, Lao Tsé, Krishnamurti e Alan Watts. Caminhos para a sabedoria da vida. São estes os ensinamentos que me interessam. Não o saber erudito, embora este também tenha o seu papel. Mas o outro, o da aprendizagem tão difícil da arte de se viver. Não por mimetismo. Mas por um ato de transfiguração.

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