Aproximar, docemente, a sociedade da diferença

Gosto de livros, livrarias e bibliotecas. Visitei, em dezembro de 2024, em Copenhaga, uma das bibliotecas que mais me impressionou, uma autêntica obra de engenharia e design, conhecida como o Diamante Negro pelas suas paredes de mármore escuro que refletem o mar e o céu. Tive também a oportunidade de visitar, no ano da sua inauguração, em 2011,  Estugarda, a Biblioteca Pública na Mailänder Platz (Stadtbibliothek am Mailänder Platz), uma obra de arquitetura genial assinada por Eun Young Yi. Uma arquitetura diferenciadora e uma infinidade de obras à disposição impressionam. Contudo, o que mais me deixou admirado, e esperançado, foi o bar de apoio à biblioteca. Um projeto de inclusão que emprega e forma pessoas com dificuldades intelectuais e do desenvolvimento. Foi com agrado que, numa visita à Assembleia da República, no âmbito da Associação Stop Idadismo, fomos desafiados pela nossa amiga Silvia Triboni para tomar um café no Café Joyeux de S. Bento, o primeiro café-restaurante a abrir portas fora de França, internacionalizando a missão do Café Joyeux no mundo, aproximar a sociedade da diferença para que esta deixe de o ser, “usando um modelo inovador e inclusivo de formação, potenciador de empregabilidade para as futuras gerações autónomas e de uma sociedade plural”.

Sufocados por más notícias, no contexto internacional e nacional, surge uma boa nova no contexto local, a abertura do Docemente II, “O café, que também é uma galeria, é um projeto da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Viseu”. Este novo espaço merece ser acarinhado pela comunidade. Posso garantir a simpatia de quem lá trabalha e a qualidade dos produtos disponíveis. Senti-me abraçado, experimentei e gostei. Se ainda não fez uma visita, não perca mais tempo. O centro histórico, paulatinamente, parece reerguer-se, ganhando uma nova movida. Destaco também a abertura da livraria “Libros & Libros”. Compre um bom livro e comece a leitura, acompanhada de um saboroso café e de um bonito sorriso na Docemente. Um contributo valioso no combate às agressões diárias que as pessoas com deficiência enfrentam como a condescendência, a infantilização ou o assistencialismo. A APPACDM teve o arrojo de sonhar e criar uma cafeteria no Centro Histórico, fora de portas, na comunidade. O sucesso da iniciativa depende de cada um de nós, da nossa vontade de construir uma comunidade em que todos têm o seu lugar e na qual os direitos não são postos em causa, num total respeito pela dignidade e individualidade de cada pessoa, independentemente da sua condição.

São estes bons exemplos que nos fazem acreditar numa comunidade inclusiva em que todos têm o seu lugar e são respeitados. Mais um reforço para o sonho de, talvez um dia,  podermos replicar o “Restaurante dos Pedidos Trocados”, um restaurante em Tóquio onde as pessoas que servem à mesa sofrem de algum tipo de demência. 

“É claro que este restaurante não iria resolver todos os problemas que enfrentam as pessoas com demência. Mas senti um entusiasmo enorme perante a ideia de criar uma nova forma de encarar as interações, em que as pessoas aceitam que os erros acontecem e desfrutam juntas da experiência.” (Shiro Oguni, O Restaurante dos Pedidos Trocados, 2024, Pergaminho) Esta iniciativa injetou-me um novo entusiasmo! Sou fã e cliente da Docemente!