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O altar do Papa

 O altar do Papa
01.02.23
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 O altar do Papa

De 1 a 6 de Agosto, 7 dias, vão decorrer em Lisboa as Jornadas Mundiais da Juventude, o maior evento da Igreja Católica.
Prevê-se que arribem à capital mais de um milhão e quinhentas mil pessoas, entre crentes, curiosos, carteiristas e profissionais do sexo.
Os homens das contas, os engenheiros da contabilidade, apontam para despesas globais na ordem dos 160 milhões de euros, suportados, em partes desiguais, pela Igreja, pelo Estado, pelas Câmaras de Lisboa e de Loures.
E como é da boa tradição construtiva portuguesa haver trabalhos a mais e revisões de preços, é bom que nos preparemos desde já para quase que certas derrapagens financeiras.
Para o conjunto das obras, construções, terraplanagens, fundações, foram celebrados 28 contratos, 93% sem qualquer concurso prévio, com 7 empresas.
Estas urgências, ao contrário das hospitalares, dão um jeito generoso aos pios outorgantes das empreitadas.
Mas não são estes bem-intencionados descaminhos e imbróglios procedimentais que hoje aqui me trazem.
Sabendo que há obras imprescindíveis, e não desconhecendo a dignidade que o evento deve ter, quero, mesmo assim, centrar-me nos custos dos altares, porque, só se falando mais de um, há dois.
O altar-mor, onde tomará assento o Papa, tem capacidade para acolher 2 mil pessoas, tem 3 plataformas, uma altura de 9 metros, e ocupa uma área de 5.000 m2. O seu custo, com a cobertura, anda na ordem dos 5.200 euros, mais as fundações que orçam os 7 milhões.
O outro altar, no Parque Eduardo VII, tem valores próximos do milhão e meio de euros.
É precisamente a minha condição de católico praticante que não me permite concordar com os custos excessivos da construção e das fundações do altar do Papa Francisco para as Jornadas Mundiais da Juventude.
E mais me ofende que, depois de rejeitado o primeiro, este tenha sido o projecto aprovado pelo Vaticano.
Mais de 5 milhões de euros é uma obscenidade, é ofensivo.
A Igreja é devoção, oração, fé, humildade, despojamento, perdão, ajuda, tolerância, harmonia, solidariedade, especialmente, com os mais vulneráveis.
O luxo ofende os seus princípios matriciais e fundadores, sempre assim foi, e sempre assim será. Qualquer desvio é transgressão.
Devia terminar o tempo do espavento, da ostentação, das grandezas materiais, do ouro e das pedrarias, dos sapatos Prada e das casulas douradas.
A santidade está na humildade. E Igreja e riqueza não casam bem.
Choca-me este gasto de dinheiro, quando a simplicidade e a poupança deviam imperar.
Em tempos de guerra e de crise mundial, de tanta privação e sofrimento, este era um exemplo precioso e oportuno que a Igreja devia ser a primeira a dar, recorrendo à sobriedade e à contenção, convocando os fiéis para cerimoniais bem mais discretos e não tão faustosos.
Num país como Portugal, com tanta miséria, fome e pobreza, é tonteira e inconsciência gastar-se tanto, e o Estado, central e local, devia bater-se por esse desiderato.
Só depois de acossados pela comunicação social, os políticos e quejandos, feitos umas baratas-tontas, logo se apressaram a recordar os benefícios futuros com a requalificação do espaço e a inventar segundas utilizações para o dito: a Websummit, o Rock in Rio, e, digo eu, porque não a Festa do Avante?
E, descobrindo as Américas, atiraram para o ar com o retorno do investimento que cobrirá as despesas. Em contas simples, e por defeito, se cada uma das pessoas aguardadas, durante os 7 dias, fizer uma despesa de 200 euros, facilmente darão um retorno de 300 milhões, quase o dobro dos 160 milhões. Resta saber se vêm, porque se vierem gastarão mais do que os previstos 200 euros. Mas o retorno seria o mesmo, porque ninguém irá para ver os altares.
Sempre esquecidos, não lembra a estes senhores dizer o quanto vai parar ao lixo.
Termino, dizendo que julgo excessivos, exagerados, desproporcionais e pornográficos estes gastos com as Jornadas Mundiais da Juventude, que, sendo importantes para o país e para a sua projecção internacional, dispensavam estas megalomanias faraónicas.
Ainda assim, não me associando ao exagero dos números, mais vale que sejamos falados pela megalomania do que pela bancarrota…

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