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Quem matou João Alves Trindade? Peça de teatro recorda crime da Poça das Feiticeiras

 Quem matou João Alves Trindade? Peça de teatro recorda crime da Poça das Feiticeiras
18.03.23
fotografia: Jornal do Centro
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 Quem matou João Alves Trindade? Peça de teatro recorda crime da Poça das Feiticeiras
11.10.24
Fotografia: Jornal do Centro
 Quem matou João Alves Trindade? Peça de teatro recorda crime da Poça das Feiticeiras

A história de um dos crimes mais memoráveis de Viseu foi adaptada para o teatro numa peça que vai estrear na próxima quinta-feira (23 de março), na Associação Comercial. “Dolo” é o nome da produção da companhia Palco D’Argumentos que recorda o crime da Poça das Feiticeiras, ocorrido há quase 100 anos.

A história com ingredientes de intriga e tensão propõe uma reconstituição do julgamento e dos momentos que antecederam o assassinato de João Alves Trindade, um homem rico, detentor de uma fortuna oriunda da África e que, por isso, ficou conhecido como o “africanista”. Foi encontrado morto a 17 de julho de 1925 na Quinta de São Caetano, em Ranhados, num caso repleto de mistério.

O espetáculo – coproduzido pelo Teatro Viriato – conta “as últimas 34 horas da vida” de João Trindade e reflete “sobre o que originou a morte deste homem e porque é que morre”, afirma o encenador e dramaturgo Jorge Fraga, estando dividido em 30 cenas.

A história da Poça das Feiticeiras intrigou-o tanto que decidiu fazer uma peça baseada no caso que correu muita tinta nos anos 20 do século passado. “Desde que cheguei a Viseu, em 1977, que me contaram esta estória e nessa altura passava-se pela poça, agora está uma estrada em frente do Hospital. Achei que era um episódio muito interessante para pegar um dia, desenvolver o enredo e contar isto à minha maneira porque considero que é muito importante devolver o património imaterial da cidade aos viseenses”, explicou.

O encenador, que também dá uma ‘perna’ no elenco, baseou-se em vários documentos da época, incluindo arquivos e testemunhos, para fazer o texto da peça.

“Ainda houve a hipótese de trabalhar o texto a partir do terceiro julgamento, mas como gosto muito do teatro e de atores, achei mais interessante conjugar a ideia de fazer o espetáculo com uma sequência da história. A história não é contada dando a ilusão de que está a acontecer tudo dentro da lógica da distanciação. Nós introduzimos e vamos contar esta história como atores, que depois multiplicam-se nas personagens. O que nos interessa é contar a história e que o público consiga assistir, ver e ouvir”, acrescentou.

O mistério em torno deste caso está repleto de algumas reviravoltas. O tribunal condenou Silvina Trindade, filha da vítima, e o marido Claudino pelo assassinato. Passados alguns anos mais tarde e devido à “pressão pública”, o caso foi reaberto e novamente julgado resultando na condenação de novos suspeitos, mas “não ficou provado que foram eles os autores do crime porque quem herdou a fortuna do ‘africanista’ foram os irmãos”, contou Jorge Fraga.

Às personagens reais foram acrescentadas mais algumas para “apimentar” a história, referiu. Já a linguagem utilizada pelos atores durante a peça replica fielmente a forma como as pessoas dialogavam na época, recorrendo inclusive a expressões típicas da região beirã.

O encenador resolveu não utilizar uma “linguagem contemporânea” para elaborar as falas das personagens. “Queria uma linguagem que pudesse ser entendida, mesmo que as personagens não falem como falamos agora. Não quis modernizar. Quando aparece o povo, há uma linguagem mais ruralista com algumas expressões menos cuidadas, daí nos aproximarmos de uma escrita do início do século XX do que propriamente uma escrita mais erudita e literária”, sustentou.

O elenco inclui atores profissionais e alunos do curso das Artes do Espetáculo da Escola Superior de Educação de Viseu. O palco é a Associação Comercial, que vai assimilar-se a uma sala de tribunal, pronta para acolher o julgamento das personagens envolvidas no crime. Os atores criam o próprio espaço, trazendo os adereços para o espetáculo.

A peça entra em cena como forma de comemorar o Dia Mundial do Teatro (27 de março). Jorge Fraga vive há muitos anos em Viseu e diz que sempre se sentiu bem recebido na cidade, embora também reconheça que o trabalho artístico é “muito difícil”, dando como exemplo a falta de apoios para este espetáculo.

“Este projeto não foi aprovado no ano passado e, se não fosse o Teatro Viriato a financiar, não teria conseguido fazer. Eu quis fazer este espetáculo no Dia Mundial do Teatro e foi nessa perspetiva que nos candidatámos aos apoios, para festejar o teatro”, disse.

As sessões decorrem na Associação Comercial de Viseu nos dias 23, 24 e 27 de março às 21h00 e nos dias 25 e 26 às 17h00.

O projeto “Dolo” inclui ainda a conferência “Teatralidade e Justiça” com a participação de cinco oradores, incluindo o ex-ministro da Justiça, Álvaro Laborinho Lúcio, marcada para segunda-feira (20 de março) às 19h00 no Teatro Viriato. O momento terá a moderação do próprio Jorge Fraga.

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