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Jorge Marques
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Pedro Escada
1. Izabel trabalhava num salão de cabeleireiro em Pszczyna, uma pequena cidade do sul da Polónia. Nos seus trinta anos de vida brincou, sonhou como toda a gente no que-vou-ser-quando-for-grande, cresceu, estudou, casou aos vinte, teve uma menina que agora tem nove anos e a quem os pais queriam dar um irmão ou uma irmã, isso era igual.
Já em 2021, neste segundo ano da peste, Izabel ficou grávida, uma gravidez desejada, cheia de esperança e amor. Eis senão quando, em Setembro, na vigésima segunda semana de gravidez, houve um rompimento de membranas, perda de líquido amniótico, uma ida de urgência para o hospital.
Aí, apesar do feto apresentar anomalias evidentes, os médicos não fizeram imediatamente o aborto com medo de serem perseguidos pela justiça. É que, na Polónia, desde o início deste ano, quem executar um aborto daquele tipo arrisca três anos de cadeia. Resultado: aquele tempo de espera pela morte do feto fez com que Izabel soçobrasse a uma septicemia.
Esta tragédia aconteceu porque o “Tribunal” Constitucional daquele país criminalizou o aborto por malformação do feto, afirmando que é “eugenia”, é “negação do respeito pela dignidade humana”.
Lembre-se que aquele órgão de cúpula do poder judicial polaco é tudo menos um tribunal independente do poder político. Pelo contrário, ele é constituído por capachos do partido de Lei e Justiça (PiS), no poder, e é presidido por uma amiga de longa data de Jaroslaw Kaczynski, o líder supremo daquela seita ultradireitista.
Esta aberração jurídica — há muito desejada pelo PiS e há muito evitada na rua pelos movimentos de cidadãos — foi consumada pela calada, em plena pandemia, quando as restrições sanitárias não deixavam o povo manifestar-se.
Esta semana, no dia 1 de Novembro, milhares de mulheres e homens vieram para as ruas gritar um “Nunca Mais!” a esta barbárie perpetrada por bárbaros de terço na mão. Uns hipócritas que, quando as suas mulheres ou as suas filhas têm uma gravidez indesejada, vão à Chéquia ou à Eslováquia resolver o “problema”.
2. No Conselho de Estado desta semana, o “televangelista” Francisco Louçã e o “soviético” Domingos Abrantes foram os únicos conselheiros a declararem-se contra a dissolução do parlamento.
Dá para perceber que, agora, o bloco e o PCP estão com medo de ouvir o povo, que estão arrependidos da asneira que fizeram. E têm boas razões para torcerem a orelha. É que nem precisavam de ter votado a favor do orçamento. Bastava terem-se abstido. Mas preferiram dar um tiro no pé, preferiram dar já um grupo parlamentar a André Ventura. Não têm perdão.
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Jorge Marques
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Pedro Escada
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Margarida Benedita