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por
Luis Cabral
É com um certo peso no peito e um leve ardor na caneta que um assumidamente simpatizante do governo, um militante do partido de Sá-Carneiro e um candidato independente numa lista social-democrata escreve este artigo. Primeiramente, porque me considero portador de um espírito democrático que não deve ser a exceção, mas sim a regra, congratulo o Dr. João Azevedo pela histórica vitória no concelho de Viriato e na sua maior freguesia, bem como, na sua pessoa, todo o Partido Socialista pela campanha eleitoral, claramente superior à dos seus adversários políticos.
Estando os parabéns dados a quem de direito, decerto o leitor me perdoará e compreenderá se me focar mais no partido que deixa, ao fim de 34 anos, o trono de Viseu.
Ultimamente, nas bases e esferas sociais-democratas um pouco por toda a capital da Beira, há uma palavra que se coloca entre aspas mais que todas as outras: Tsunami. São praticamente incontáveis os parágrafos ou publicações regadas ao que aparenta ser uma incontestável tese de que, mais cedo ou mais tarde, iria atingir Viseu bem como os seus órgãos autárquicos mais enraizados no poder local que as radículas de um antigo carvalho, uma catástrofe inevitável que ninguém poderia prever. No que apenas se pode considerar como uma profunda apatia face à considerada inexorabilidade da vitória do partido de Mário Soares, seria, talvez, importante considerar as potenciais causas e circunstâncias em que tal tsunami ocorreu. Isto porque concordo, aos doze dias do décimo mês do ano de dois mil e vinte e cinco, fruto das eleições autárquicas, o país pareceu, de facto, ter sido atingido por um maremoto como não havia há duas décadas… Só que parece que Viseu perdeu a onda.
Vamos aos factos. Dos 247 mandatos de assembleia de freguesia atribuídos nas 25 divisões do concelho de Viseu, 123, ou seja, metade arredondada à décima, foram destinados a candidatos inscritos em listas do PPD/PSD. Apesar da clara diminuição de dezasseis mandatos face ao ato eleitoral de 2021, este valor não representa uma perda significativa à luz do reduzido ganho do segundo partido mais votado, que passou de 97 para 98 mandatos. Apesar da vantagem de 13 presidências de câmara no distrito para 11, a nível de vereadores, os sociais-democratas mantiveram-se atrás do Partido Socialista, tendo, ainda assim, reduzido a margem face ao partido de João Azevedo relativamente às últimas eleições tendo ficado apenas 15 vereadores atrás do PS, bem menos que os 25 de diferença de 2021. Por último, nacionalmente, de uma forma um pouco inesperada até para as mais altas elites da cúpula partidária, o PSD atingiu uma contundente vitória, obtendo 136 autarquias e reavendo a presidência da Associação Nacional de Municípios, que lhe escapava desde o ano de 2014.
O que se passou, então, em Viseu? Como num bolo começado para aproveitar claras que se não teriam usado de outra forma, muitos ingredientes terão entrado na receita final.
Antes de mais, é inconcebível não falar da figura maior destas eleições como sendo um potencial fator crucial para a derrota eleitoral. Apesar do indiscutível papel no crescimento da cidade e da verdadeira marca que Fernando Ruas deixará para sempre na senhora da beira, é quase que ponto assente que, tendo o Partido Social Democrata fechado as suas principais listas nos mesmos de sempre e pessoalizado todo um ato eleitoral na figura do seu eterno candidato, aos viseenses foi dado a escolher entre o passado e a mudança, deixando-se, num quadrado ao lado de um punho, dissipar glórias antigas em 36 anos de mandato que, apesar de laranjas, já se mostravam cansados e repetitivos.
Para além disto, é também notório e potencialmente revelador, o sentimento de antigos candidatos do partido da seta laranja ou de coligações que o albergavam de, de forma muito provavelmente propagada pelos próprios comportamentos do partido, se verem forçados a fugir, optar por escolher integrar listas adversárias ou até mesmo se absterem de todo de um dever cívico levando consigo familiares, amigos e potenciais seguidores e dispersando votos outrora de centro-direita.
Nesta maré de responsabilidades, será também importante atribuir culpas aos Pôncios Pilatos das cúpulas partidárias que, sabendo do muito provável desfecho de uma candidatura gasta, pouco jovem e elitista, optaram por lavar as suas mãos perante o povo permitindo que a população decidisse o destino do seu partido sem que para o prevenir nada fizessem. É também importante deitar o olho às estruturas intrinsecamente partidárias que, por uma dança de cadeiras em listas ou por mero autoengrandecimento travaram braços de ferro com cabeças-de-lista para, no fim da noite, os verem perder rodeados de listas movidas a poder, e não a querer.
Por último, mas não menos importante, seria também útil serem tiradas ilações sobre a estratégia de comunicação e de campanha adotada pelos sociais-democratas que, a bem dizer, foram de longe dizimados pela máquina eleitoral de João Azevedo no domínio da vivacidade, da entreajuda e, no fundo, da disponibilidade para com o povo que, até aí só estava habituado a ver os seus autarcas de fato.
Estando lido o sermão, e a derrota do Partido Social Democrata consumada nas urnas resta uma questão e, infelizmente, nenhuma resposta. Se a derrota do PSD Viseu nas eleições autárquicas de 2025 foi gerada por falta de conhecimento das vontades do povo ou por mera soberba e glória de mandar, só os principais responsáveis saberão… Mas uma coisa é certa, chamar a doze de outubro um tsunami é como chamar à própria mão o empurrão do destino… Consola, mas não espelha a realidade.
por
Luis Cabral
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Cristofe Pedrinho
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Alfredo Simões
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José Carreira
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João Ferreira da Cruz