À procura de vistas de cortar a respiração? Situado na EM326, em…
Quer fazer parte de uma equipa com mais de 20 anos de…
No quarto episódio do Entre Portas, um podcast da Remax Dinâmica em…
por
Jorge Marques
Tenho sempre a esperança que na chegada de um novo governo, este não entre no ritual do costume, nesse coro de lamentações, acusações e falhas do governo anterior. Até hoje isso não aconteceu com nenhum, o que me leva a crer que se trata de uma cultura entranhada nos partidos da governação. Todos reclamam de uma má herança! É estranho e quase patológico este tipo de comportamento, porque se governaram mal, então deveriam estar-lhes gratos pela oportunidade de os substituir; segundo porque no final do seu mandato a cena vai repetir-se e nós nunca saberemos o que é um bom governo!
Tenho tentado uma explicação racional para estas avaliações, porque me parece que críticos e criticados acabam por ficar mal na fotografia. A chegada de um novo governo deveria ser um motivo de esperança. Desta forma não conseguimos livrar-nos dos sintomas de crise, porque quando morre o velho governo não nasce o novo e o cadáver permanece em cena. O exagero nas críticas pode parecer uma vantagem para quem chega, mas tudo isso é coisa de curta duração. Também porque a nossa cultura do erro não nos tem ajudado, nem levado a fazer melhor, mas apenas a não fazer para não errar. Todos já percebemos que não se tomam as grandes medidas estruturais que o país precisa porque elas, boas ou más, serão sempre criticadas por um dos lados. A verdadeira paz significa não fazer e fingir que se faz! De tal maneira estamos habituados ao negativo, que quando acontece o positivo já nem acreditamos, porque os elogios só vêm na forma de autoelogios.
Mais uma vez lembrei-me e sorri do que me aconteceu nos primeiros tempos do meu primeiro emprego. Eu tinha acabado de sair do Serviço Militar depois de mais de 3 anos e tornava-me um maçarico no mundo do trabalho. Encomendaram-me um estudo a um conjunto de situações em vários locais de trabalho ao fim de três meses e depois de uma boa formação. No final esmerei-me num relatório onde assinalava todo o tipo de falhas. No dia seguinte o Diretor chamou-me e eu todo contente ia á espera de elogios. Tive uma surpresa? Ele desancou-me e disse-me que nunca mais queria um relatório como aquele. Que se eu apontava falhas, então tinha que dizer o porquê e a seguir dar melhores soluções. Que metesse bem na cabeça que a regra era: Não estou de acordo/pelas seguintes razões/que a melhor solução é! Aconteceu em 1972 e eu ainda não esqueci!
O que eu quero dizer é que os governos quando chegam, sobretudo quem nunca foi governante, a ansiedade da critica negativa é tal que se descontrolam. Acabam por ficar na primeira fase que é o discordo e não passam qualquer tipo de pedagogia positiva para a sociedade. Ou então, falando contra mim próprio, estão a fazer a mesma triste figura que eu fiz. Precisam agora de um chefe que os chame á razão! Mas em abono da verdade, tem que se dizer que alguns ministros e secretários, desde a primeira hora e no silêncio dos debates ruidosos começaram logo a resolver problemas. Começaram logo a criar uma dinâmica de que mesmo discordando do anterior, vem propondo soluções que são próprias das suas competências.
Então é de competência que temos que passar a falar, porque ela tem vindo a ser maltratada ou transfigurada. Há mesmo quem fale da Morte da Competência! Talvez porque a confundimos com as figuras das leis ou estatutos, com as obrigações de um Órgão ou Titular de um cargo ou até daquilo que se pode ou deve fazer. Ela não é o deve fazer, mas o fazer e só existe depois de exercida. Resolver Problemas é uma dessas competências e não o seu anúncio nos media. Dizer o que está certo ou errado é apenas o princípio e não o fim. Aprender a desenvolver um pensamento critico é outro tipo de competência e não o partir para a crítica desbragada. Penso que nos habituámos a zonas de conforto onde tudo se pode dizer, mas não deve!
Encontrei faz alguns anos, um Professor de Direito de uma Universidade dos EUA e que também era comentador nos media. Dizia que era urgente fazer uma profunda reflexão sobre a capacidade de votar. Que votar era uma grande responsabilidade e que precisava da maturidade do cidadão. Que quem vota deveria ser capaz de manter uma discussão política adulta, saber ouvir argumentos do outro lado e até mesmo mudar de opinião quando confrontado com novas provas. Claro que ele não tinha nenhuma fé que isto viesse a acontecer! Que idades cronológica e mental podem até ser diferentes. Apesar disso deveríamos, pelo menos, ter a consciência que esta é uma das fragilidades da democracia. Alertava também para a ideia de que as pessoas com menos de 30 anos nos EUA estavam alheadas em relação ás grandes questões de interesse público.
O grande autor de ficção e divulgação científica Isaac Asinov que morreu em 1992, quando se referia aos EUA já profetizava o que agora estamos a ver: “Existe e sempre existiu nos EUA um culto da ignorância. A corrente anti-intelectualismo tem sido um padrão constante que atravessa a vida política e cultural…Democracia significa que a minha ignorância vale o mesmo que o teu conhecimento”. Em toda a parte a democracia vive tempos perigosos e estamos a assistir ao desperdício de séculos de conhecimento e á Morte da Competência. Á morte da separação entre profissionais/leigos, sábios/opinadores, aqueles que fazem/ dos que não fazem. Vai prevalecendo a ideia de que detendo a informação nos tornamos especialistas de tudo.
Os alertas de perigo começam na negação da própria educação, do aprender ao longo da vida. Prolongam-se para os eleitos mal preparados que preferem as brigas e os erros ás perguntas, respostas e aos porquês! Talento? O caminho começa na aquisição da informação, no saber, mas depois é preciso compreender, adquirir conhecimento. No fim da linha precisamos fazer, fazer bem e então ganhámos a competência. Temos que nos perguntar como povo: Queremos ganhar alguma coisa ou ter medo de perder alguma coisa? Queremos gerar talento ou matá-lo? São dois caminhos diferentes e nós estamos nessa encruzilhada…
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
por
José Carreira
por
Carlos Vieira
por
Joaquim Alexandra Rodrigues
por
Paulo Lima